INÊS CAMPOS
( BRASIL – MINAS GERAIS )
Inês Campos - mineira de Belo Horizonte, Minas Gerais, onde vive ainda hoje - com "Nós". Os poemas dela refletem a dor, a força de um amor e uma saudade imensa que "faz do espanto um emaranhado de nós".
Inês Campos, que também é advogada, estreou na poesia, em 2017, com o livro Geografia Particular, pela Cas’a edições. Sua segunda publicação, Roca, foi lançada em 2019 pela mesma editora. Alguns de seus poemas foram publicados também em revistas e coletâneas nacionais e estrangeiras.
ENTRELINHAS , VERSOS CONTEMPORÂNEOS MINEIROS. Organização: Vera Casa Nova, Kaio Carmona, Marcelo Dolabela. Belo Horizonte, MG: Quixote + Do Editoras Associadas, 2020. 577 p. ISBN 978-85—66236-64—2 Ex. biblioteca de Antonio Miranda
Despejo
então reuni minhas quinquilharias:
— 5 ameaças
— 30 folhas de esperas
— 2 pés descalços
— 1 dente de leite
— 3 medos guardados em gavetas
apropriadas
— 2 saudades vermelhas
— alguma frase
cortada
(onde guardar tanto grito?)
minhas borboletas: soltei
meu jardim: deixei para o próximo inquilino
Sicília
são as palavras
aquelas guardadas
ou as outras
ditas aos solavancos
fugidias
são os silêncios
que permanecem
templos antigos
mal restaurados
e a grama
que cresce
ao redor
em cima
dentro
Exílios
você a procurar seu pai
o nome do seu pai
o seu nome
eu contigo para o movimento
você perdeu os sapatos
eu amei um cigano
te alcancei no fim
com os pés descalços
a lápide do seu pai
nada dizia sobre você
enquanto estrangeiros os olhos
reviravam minhas costuras
o pulso do derbak
e meus joelhos dobrados
na roda sem centro
com o nome cravado
na planta dos pés
Corcovas
fiquei no trem que não passou
no verbo que escapou pela pele
o céu reduziu os espaços se arreganhei
os dentes atrás da burca
engoli a chave que carregava no pescoço
nenhum pensamento depois do seu sopro
montei o bicho no silêncio das corcovas
a maldição do muro saltado
onde foi que não mastigamos o sal?
em que língua choravam seu nome empedrado?
*
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Página publicada em maio de 2024
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